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voltarBNDES responde por 14% de todo o investimento feito no Brasil
Banco emprestou quase o triplo das operações contratadas pelo Bird no mundo em 2008 Para especialistas, injeção de R$ 100 bi no banco elevará força do Estado na economia; BNDES também é acionista de quase 140 companhias
JANAINA LAGE
Principal instrumento do governo para combater os efeitos da crise, o  BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e  Social) já representa quase 14% do total de investimentos no país. No  ano passado, emprestou quase o triplo do total de operações contratadas no Bird  (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento), que, com a AID  (Associação Internacional de Desenvolvimento), compõe o Banco  Mundial.
Em 2008, o BNDES liberou R$ 92,2 bilhões  (cerca de US$ 40 bilhões). No ano fiscal de 2008, o Bird comprometeu um total de  US$ 13,468 bilhões em 99 operações em 34 países, com desembolso bruto de US$  10,5 bilhões. O BID (Banco Interamericano de  Desenvolvimento) emprestou US$ 7 bilhões.
BNDES,  Bird e BID são instituições de perfis diferentes, mas a  comparação evidencia o quanto o banco brasileiro cresceu e indica o aumento da  presença do Estado na economia.
De 2005 a 2008, seu total de empréstimos  praticamente duplicou. Com a injeção de recursos anunciada pelo governo, de R$  100 bilhões para o período 2009-2010, a expectativa é que ele passe a concentrar  ainda mais a demanda por crédito das empresas. "Com esses R$ 100 bilhões, o  BNDES dispara na frente dos demais bancos de desenvolvimento. É  uma decisão política que busca manter a taxa de investimento e o emprego",  afirma Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES.
O banco tem  atuado até mesmo na oferta de crédito de curto prazo, o que historicamente não  faz parte do seu perfil. "Na nossa época, a política de apoiar exclusivamente  investimentos de longo prazo era correta, mas hoje entendo que os desafios do  momento podem justificar uma flexibilização do uso do BNDES",  diz Francisco Gros, ex-presidente do banco.
Os desembolsos do banco já  representam 13,9% do total de investimentos, considerando os dados de janeiro a  setembro do ano passado. Em 2006, essa participação era de 9,6%.  Tradicionalmente, o banco exerce um papel anticíclico -em momentos de incerteza  aumenta a sua atuação. A participação do BNDES no mercado de  crédito vinha declinando desde 2004, mas, em outubro do ano passado, quando a  crise mundial se agravou, sua participação passou de 16% para 17%.
O próprio  banco afirma que, num cenário de maior concentração da demanda no  BNDES, poderá emprestar R$ 120,8 bilhões neste ano e R$ 136,2  bilhões em 2010. Críticos avaliam que o governo está assumindo uma posição de  substituir o papel do setor privado e que é necessário pensar sobre o limite de  captação de recursos do banco. Para João Carlos Ferraz, diretor de Planejamento  do banco, a tendência é que o banco se estabilize em um patamar na faixa dos R$  90 bilhões a R$ 100 bilhões em crédito.
"Dizem que o banco ocupa o papel [do  setor privado]. São comentários essencialmente ideológicos. Um país que fecha o  ano com 41% de crédito sobre o PIB ainda é pouco sofisticado em termos de  sistema financeiro. Precisamos de mais mercado de capital e mais bancos  oferecendo linhas de longo prazo".
Peso nas  empresas
A carteira de participações do banco via  BNDESPar inclui hoje quase 140 empresas, como Vale,  Petrobras e Embraer. O BNDES participa ainda  de 26 conselhos de administração.
Para Júlio Gomes de Almeida, da Unicamp, o  BNDES cresceu demais para o tamanho do mercado de capitais.  "Cresceu tanto que hoje se vê limitado pelos mercados de crédito e capitais,  onde não consegue captar recursos em bases compatíveis com as suas operações",  disse. Ele avalia que o modelo de financiamento de longo prazo com base nos  recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) não se sustenta mais e que a  injeção de recursos do governo só adiou a discussão.
Para Luiz Carlos  Mendonça de Barros, ex-presidente do banco, uma das funções do  BNDES é ocupar espaços em momentos de menor dinamismo. "O  BNDES tem limitação orçamentária e, por isso, deve ter uma  agenda de prioridades adaptada a cada momento."
Especialistas dizem que,  apesar de minimizar a falta de liquidez, a estratégia do governo com o banco  traz riscos. Para Fernando Holanda, da FGV, pode ocorrer alta da inadimplência  com a crise. "Há o risco de o governo financiar investimentos que não serão  pagos."